terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Pálido Ponto Azul



"Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. 

Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido."

                                — Carl Sagan

Quem falou que o mundo era todo azul e não sentia dor, por engano esqueceu-se: Só existe dor aqui no mundo azul. (...) 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Fases



Ontem era quente e estável. Imutável. Hoje se encontra permanentemente mutável. Não dá pra acompanhar o movimento, não dá pra ver seus rastros pelo chão. Não se sabe se passou ou não. Mas desconhece-se as razões. Sufocada. Oprimida. Sem chão. Deve ser por isso que não se vê os rastros. Seus olhos não brilham mais. As pessoas são todas iguais. Sem mais

O outro lado do espelho



Eu durmo tarde. A noite é minha companheira. Já onde todos foram, eu não sei. Onde as pessoas escondem sua existência, eu não sei. Existe na minha cabeça mil páginas com perguntas, umas apenas com quatro letras e um ponto de interrogação.
Será?
Onde?
Quem?
Mas existe um ponto na vida transitória onde não existem perguntas, é o ponto mais imerso do interior do centro, as respostas. Eu nunca cheguei até esse ponto, eu nunca quis entrar lá. Eu tenho medo de sentir medo. Eu ouço o som do silêncio, eu encontro o inalcançável na imensidão dos sonhos. Eu não sei viver. Nunca quis aprender... Quis assistir só. Assistir a minha vida sem senti-la.
Me pergunto onde está o foco. Onde está a luz. Onde está o consciente do subconsciente. Onde está a lucidez do inconsciente. Não sei. Eu viajo mil mares mas não sei. Não há expressão, não há surpresas. O que há então? Não sei.
Caminho mil milhas, mas ainda não há um porto. Será que seria apenas um aglomerado gigante de pensamentos se voltando contra mim? Eles vieram me buscar, me fazer parte da confusão alienada e separada de todo o universo ao seu redor. É assim que eu vou se me perguntares como estou. A razão inexistente. O x da questão.